16.08.2021

Ser Advogado

Por Luiz Thonon Filho

Nesta nova fase do TMB Em Pauta que se inicia, fui escolhido para contribuir com meu artigo. Surgiu, então, a primeira dúvida: qual será o tema? Junto com a dúvida, veio a primeira certeza: Não será um artigo técnico, apinhado de jurisprudências e citações doutrinárias. Será um artigo “juridiquês free”. Nessa linha, aproveitando do mês de agosto, quando se celebra o Dia do Advogado, decidi falar sobre a arte – sim, a arte – de ADVOGAR.

E hoje, prestes a completar 20 de anos de profissão, me convenço que o exercício deste mister, para além do árduo estudo, dedicação e disciplina, exige, acima de tudo, paixão e vocação.

A vocação, no meu caso, talvez tenha desabrochado antes mesmo da escolha do curso de Direito, quando costumava ser o amigo eleito como porta-voz dos demais para qualquer reivindicação ou para livrarmo-nos dos típicos “problemas” da adolescência. Naquela época, de forma absolutamente inconsciente, começava a construir minha reputação e minha imagem perante a sociedade (no caso, os amigos) como advogado.

Já nos bancos acadêmicos da PUCCAMP, logo no primeiro ano, quando nos deparamos com inesperadas disciplinas como economia, sociologia e lógica – quando, na verdade, estávamos todos sedentos pelas matérias clássicas, como penal, civil e tributário –, era comum ouvir, da maioria dos jovens que ali começava a trilhar seus sonhos, o desejo pelas carreiras como a Magistratura, o Ministério Público, Delegado de Polícia e, sempre em menor número, a Advocacia.

A escolha pela faculdade em Campinas, em detrimento à opção na capital, julgo ter sido o primeiro acerto em minha carreira. Na época, ainda com 17 anos, tive o privilégio de conversar com o diretor da Faculdade de Direito da PUCCAMP, que me presenteou com a primeira lição. Disse o Prof. Dr. Francisco Rossi à época: “Se sua decisão é pela advocacia, que fique em Campinas. E comece a construir o seu nome na cidade, dia a dia. Não tenha pressa. A advocacia exige maturação lenta e paciência. Preze, sobretudo, pela moral, pela ética e zele pelo seu nome, que estará estampado na parede de seu escritório.”

A advocacia, como disse, sempre foi o meu objetivo, desde as primeiras lições de Direito. Eu já era um apaixonado pelos debates jurídicos nas tribunas hollywoodianas, ainda que aquilo estivesse completamente divorciado da nossa realidade jurídica. Entretanto, o que mais me atraía na profissão era a relação advogado-cliente. A relação de confiança que se estabelece quando se elege alguém para representá-lo em um caso que, por vezes, é “o” caso daquele cliente.

Aprendi ao longo desses anos que a vida do advogado acontece, na maior parte do tempo, fora das paredes dos escritórios. Ou melhor, nas palavras de um de meus tutores ao longa da carreira: “É na rua que se faz negócio!”. Então, ficar dentro de um escritório definitivamente não era uma opção, pelo menos para mim. A advocacia se exerce na vida cotidiana, perto de pessoas, em eventos sociais, em viagens, nos momentos e lugares mais inesperados.

Entendi que eu deveria ganhar minha legitimidade como advogado estando perto dos meus clientes e de potenciais clientes, demonstrando e oferecendo a eles – além do conhecimento técnico, evidentemente – a minha disponibilidade. E, dentro desta disponibilidade, oferecer aquilo que tenho de melhor, explorando os meus pontos fortes, sem deixar de observar as fraquezas e não permitir que elas comprometam minha atuação.

Identificar qual é o seu ponto forte e o seu diferencial é outra receita para o sucesso. A rigor, espera-se que todo advogado esteja preparado para atender o cliente sob o aspecto técnico-jurídico; mas fazer a diferença, entregar o algo a mais, é o que fará de você um profissional de destaque. Será aquilo que lhe tornará efetivamente um advogado de sucesso, juntamente com o conhecimento técnico, que adquirimos ao longo da vivência acadêmica e da experiência com a militância; o tempo do advogado é, sem nenhuma dúvida, o que temos de mais valioso a oferecer aos nossos clientes.

Em um dos meus estágios, ouvia que o advogado deveria ser advogado 24h por dia. Diferentemente de outras profissões, o advogado é logo identificado pela sua vestimenta, sua postura e sua respeitabilidade – daí a liturgia que envolve o exercício desta profissão apaixonante.

O papel do advogado dentro de uma sociedade, portanto, vai muito além daquele definido constitucionalmente, como peça fundamental e indispensável à administração da justiça. O advogado tem o dever de velar pelos direitos e pelas garantias do cidadão, participando de forma ativa na construção de uma sociedade mais igualitária e livre. E nada, absolutamente nada, define melhor essa função do Advogado do que o discurso escrito por Rui Barbosa para paraninfar os formandos da turma de 1920 da Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, em São Paulo. Certamente, uma das mais brilhantes reflexões produzidas pelo jurista sobre a missão do advogado – “Oração aos Moços”, do qual compartilho com vocês um trecho que particularmente me dá orgulho em dizer: eu sou ADVOGADO.

“(…)Não se subtrair à defesa das causas impopulares, nem à das perigosas, quando justas.
Onde for apurável um grão, que seja, de verdadeiro direito, não regatear ao atribulado o consolo do amparo judicial.
Não proceder, nas consultas, senão com a imparcialidade real do juiz nas sentenças.
Não fazer da banca balcão, ou da ciência mercatura.
Não ser baixo com os grandes, nem arrogante com os miseráveis. (…)”

Parabéns a todos os Advogados e todas as Advogadas pelo dia 11 de agosto!

Luiz Thonon Filho é sócio da TMB Advogados, integrante do time de Contratos e Societário e Presidente da 1ª Seção do Tribunal de Ética e Disciplina da OAB – 17ª Turma.

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